Moamba
e quando a Morte chegou, ele perguntou.
- porque é que demoraste tanto??
- fiquei presa no comboio da linha Sintra, houve alguém que se atirou para linha..."
Escura, caiu a noite na Rinchoa. Ao longe ouvia-se uma batida não se percebia o que era, nem de onde vinha, mas estava cada vez mais perto. aproximava-se a grande velocidade e acompanhada por um ruído difícil de entender. "o que é isto??", perguntou com medo. Seria Kizomba ou Techno?... Tanto lhe fazia, o mal estava feito... A dúvida, rapidamente se dissipou, era kuduro que escapava pelos vidros entre-abertos de um saxo cup amarelo que fugia à polícia." A bófia, sempre a bófia... mas desta vez não ia enfrentar a parede... desta vez seria diferente... virou a tempo, foi por um triz que não enfrentou a parede de frente, como fazem os homens. "Que se foda!" pensou, "hoje sou menino da mamã, não posso partir o bote que amanhã é dia d B'leza e tenho de ir buscar a dama" . "Vou pela cova da moura, ali eles não entram e hoje é dia de muamba em casa da cota do Wilson."
Chegou a casa, pousou a fusca... Aquela boca não ia cuspir fogo hoje... não hoje... O empate com a Académica tinha-lhe tirado a energia... A Gabriela tinha começado a dar, mas havia algo que não estava bem... Novamente, a batida não era certa... "mas que merda, não percebo! o que é isto?!" a confusão apoderava-se da sua mente. Sentou-se na cama e enrolou um pombo para o ajudar a pensar. Acendeu-o e inalou profundamente uma, duas, três vezes. Aos poucos aquele fumo ajudava a assentar os pedaços daquela noite. O jogo, o empate "foda-se contra a académica, outra vez... espera, desta vez não perdemos, foi só um empate."
A bófia, porque é que fugira a bófia? Mais três bafos no charro, "ahh sim, tavam lá os betinhos da juve, filhos da puta apoiam o godinho! tiveram bem aquilo que mereciam! o jipe dali não sai!" Tinha-lhe furado os pneus do range rover, não houvera tempo para a ligação directa, apanharam-no a entrar para dentro do carro. pum, pum, pum três tiros, três pneus, a bófia veio logo.
Eis que tudo ficou mais claro... mais Twilight... Era a hora do Lobo... ou melhor, do Oceano Pacífico, a ora do lobo já não dá... Mandou o resto do trabuco fora... Nada daquilo já lhe sabia bem... Haveria rango no frigorífico?... Levantou um pouco o som do rádio... e novamente aquela voz: "Executa velho"... "Executa velho"... Mas que voz seria aquela, seria o estoiro dos pneus a baterem-lhe? O Tico e o Teco estavam agitados... Era a hora da ribeira!
O rádio estava sintonizado na rádio miramar e o pastor repetia "executa velho". Executa? Mas executa o quê?! A cabeça não parava e o quarto girava e não parava, girava cada vez mais rápido. Teve de fugir para a casa de banho, as voltas cada vez mais rápidas deram-lhe a volta ao estômago. Ou seria ao intestino? Não soube dizer, foi tudo ao mesmo ao tempo não chegou a perceber o que o pastor queria dizer com "executa".
Teve a certeza que foram os betinhos da juve, filhos da puta, minaram-lhe a mini! Os minutos na casa de banho pareciam intermináveis e depressa se transformaram em horas. Jurou vingança, a fusca continuava em cima da mesa.
A manhã já ia alta quando tocaram à campainha. Dois minutos depois a mãe bate à porta para lhe dizer que quem comeu em casa do Wilson teve uma intoxicação alimentar, a cota substituiu o gindungo pelo piri-piri do lidl. tarde de mais, a morte atrasou-se mas não foi assim tanto.
FT João Filipe Soares (a partir de um status no facebook)