16 julho, 2008

Realidade alternativa

Hoje matei um homem.
Vi-o, escolhi-o, segui-o, decorei-lhe a cor, o cheiro, o sabor e a forma. Depois, matei-o.

Não deu luta como pensava que desse. O ser humano macho torna-se tolo quando tem muita carne e pouco tecido à vista e disposição. torna-se mel, manteiga, barro, plasticina fácil de moldar.

Assim, seduzi-o, provei-o, bebi-o, mordi-o, amei-o, montei-o, dei-lhe a melhor noite da sua vida, tendo o cuidado de, antes, o avisar disso mesmo. Depois, matei-o.

Tirei-lhe a vida com as minhas mãos no momento do êxtase. Deixei que o ar lhe abandonasse o corpo, como se de areia entre os dedos se tratasse.
Deliciei-me do princípio ao fim do jogo. Desde o momento em que o vi, até ao aspirar do seu último fôlego.
Agora está ali, num canto em cima da cama. Um monte de carne fria sem expressão, de olhos leitosos e nublados.

Eu lavo-me, visto-me, penteio-me, maquilho-me, perfumo-me, deixando o cheiro e a pestilência da morte para trás.
Saio para a rua de dia, com a luz crua já no alto, nova e limpa.

Esta morte foi a minha catarse.