30 outubro, 2012

Moamba


 e quando a Morte chegou, ele perguntou.
- porque é que demoraste tanto??
- fiquei presa no comboio da linha Sintra, houve alguém que se atirou para linha..."

Escura, caiu a noite na Rinchoa. Ao longe ouvia-se uma batida não se percebia o que era, nem de onde vinha, mas estava cada vez mais perto. aproximava-se a grande velocidade e acompanhada por um ruído difícil de entender. "o que é isto??", perguntou com medo. Seria Kizomba ou Techno?... Tanto lhe fazia, o mal estava feito... A dúvida, rapidamente se dissipou, era kuduro que escapava pelos vidros entre-abertos de um saxo cup amarelo que fugia à polícia." A bófia, sempre a bófia... mas desta vez não ia enfrentar a parede... desta vez seria diferente...  virou a tempo, foi por um triz que não enfrentou a parede de frente, como fazem os homens. "Que se foda!" pensou, "hoje sou menino da mamã, não posso partir o bote que amanhã é dia d B'leza e tenho de ir buscar a dama" . "Vou pela cova da moura, ali eles não entram e hoje é dia de muamba em casa da cota do Wilson."

Chegou a casa, pousou a fusca... Aquela boca não ia cuspir fogo hoje... não hoje... O empate com a Académica tinha-lhe tirado a energia... A Gabriela tinha começado a dar, mas havia algo que não estava bem... Novamente, a batida não era certa... "mas que merda, não percebo! o que é isto?!" a confusão apoderava-se da sua mente. Sentou-se na cama e enrolou um pombo para o ajudar a pensar. Acendeu-o e inalou profundamente uma, duas, três vezes. Aos poucos aquele fumo ajudava a assentar os pedaços daquela noite. O jogo, o empate "foda-se contra a académica, outra vez... espera, desta vez não perdemos, foi só um empate." 
A bófia, porque é que fugira a bófia? Mais três bafos no charro, "ahh sim, tavam lá os betinhos da juve, filhos da puta apoiam o godinho! tiveram bem aquilo que mereciam! o jipe dali não sai!" Tinha-lhe furado os pneus do range rover, não houvera tempo para a ligação directa, apanharam-no a entrar para dentro do carro. pum, pum, pum três tiros, três pneus, a bófia veio logo.  
Eis que tudo ficou mais claro... mais Twilight... Era a hora do Lobo... ou melhor, do Oceano Pacífico, a ora do lobo já não dá... Mandou o resto do trabuco fora... Nada daquilo já lhe sabia bem... Haveria rango no frigorífico?... Levantou um pouco o som do rádio... e novamente aquela voz: "Executa velho"... "Executa velho"... Mas que voz seria aquela, seria o estoiro dos pneus a baterem-lhe? O Tico e o Teco estavam agitados... Era a hora da ribeira! 
O rádio estava sintonizado na rádio miramar e o pastor repetia "executa velho". Executa? Mas executa o quê?! A cabeça não parava e o quarto girava e não parava, girava cada vez mais rápido. Teve de fugir para a casa de banho, as voltas cada vez mais rápidas deram-lhe a volta ao estômago. Ou seria ao intestino? Não soube dizer, foi tudo ao mesmo ao tempo não chegou a perceber o que o pastor queria dizer com "executa". 

Teve a certeza que foram os betinhos da juve, filhos da puta, minaram-lhe a mini! Os minutos na casa de banho pareciam intermináveis e depressa se transformaram em horas. Jurou vingança, a fusca continuava em cima da mesa.

A manhã já ia alta quando tocaram à campainha. Dois minutos depois a mãe bate à porta para lhe dizer que quem comeu em casa do Wilson teve uma intoxicação alimentar, a cota substituiu o gindungo pelo piri-piri do lidl. tarde de mais, a morte atrasou-se mas não foi assim tanto.

FT João Filipe Soares (a partir de um status no facebook)

14 novembro, 2010

Maria

A Maria é filha da música.

Nasceu entre dois acordes de guitarras diferentes, mas que se completavam uma à outra.

Guitarras tão diferentes uma da outra, como uma, mais velha, feita à mão sem conhecimento mas com mestria de uma mão firme, sem cordas, e outra, mais nova, já electrizada, mais bonita e esguia, com cordas. Mas, mesmo assim, de duas guitarras que em tudo são tão diferentes produziram uma nota tão perfeita, tão afinada que cresceu e se amplificou no ar.

E aquela nota, que por ali ficou, multiplicou-se, juntou-se a outras, tornou-se numa pauta, numa melodia, que começou a tocar incessantemente nas cordas daquelas guitarras, mesmo naquelas que não existiam!

Assim, ali ficou, a tocar, a ecoar nos corpos daquelas guitarras, tornando-se na melodia permanente que tocavam sem pensar e sem esforço.

Uma melodia natural, que saía dos dedos experientes que dedilham as cordas de forma a tornarem mais simples e fáceis todos os acordes complicados que se liam naquela pauta, que rapidamente se eternizou e que as mãos de onde pendiam os dedos aprenderam a tocar de cor.

Às notas iniciais, aos primeiros e tão complicados acordes, juntaram-se mais e mais e aquela melodia cresceu, tornou-se mais familiar às mãos que a tocavam, uma sinfonia rock'n'roll tocada a quatro mãos. As mesmas mãos que a criaram.

A Maria não é filha da música, é um sinfonia longa e incompleta que vai continuar a crescer.

08 outubro, 2010

Laura, a tinta da china

A Laura nasceu a dia 22 de Agosto, mas lá por só ser ter dado a conhecer nesse dia, não quer dizer que não andasse por cá há mais tempo...

Como é sabido, normalmente, os pais é que escolhem quando é que querem ter os filhos. Ora, no caso da Laura não foi assim! Ela era apenas uma estrela, uma luzinha lá em cima no céu quando escolheu os pais.

Mas, primeiro, quis conhecê-los melhor, quis que eles crescessem, que se conhecessem, que se amassem e tivessem tempo para deixar para trás todos os medos e inseguranças, tão próprios da infância, mas que demoram a ir embora. Por isso, quando lhe perguntavam se já estava na hora, se já estava pronta, ela respondia: "eu já, mas eles precisam de mais tempo, tem de ser na altura certa." E lá ia ela tomando conta dos pais, via-os a rir, a chorar, enfim, a crescerem.

Entretanto, cá por baixo, uma dia a barriga da mãe começou a crescer, a aumentar . Então, na altura certa, os pais da Laura descobriram-na, souberam que iam ter uma menina linda! Foram para casa felizes como nunca e ao chegarem começaram a pensar num nome para dar aquela filha linda que ali vinha. "Laura!!", disseram eles ao mesmo tempo. E foi esse o nome que escreveram num pedaço de papel que guardaram junto ao coração.

A Laura, nasceu no dia 22 de Agosto de 2010 e anos mais tarde, encontrou aquele pedaço de papel. Olhou-o, agarrou nele e perguntou aos pais que tinta tão preta era aquela com que o seu nome estava escrito. "Tinta da china", respondera

06 junho, 2010

A C

Numa noite muito, muito escura, naquela noite, muito, muito fria e feia e que, aquela hora, metia muito, muito medo, por que era a hora em que só existem sombras e em que estas crescem, do fundo da rua veio um barulho que , em nada, tinha a ver com a fealdade daquela noite. era um barulho diferente, alegre, luminoso.


Era um ruído limpo que fazia lembrar coisas boas e alegres, era um ruído quente como se fosse um raio de sol, mas os raios de sol não fazem barulho... Aquele ruído cheirava a flores e tinha o barulho de um ribeiro com água limpa a correr, tinha o som da esperança, o sabor do caramelo, as cores do arco-íris.


Eles foram investigar, foram saber, descobrir de onde vinha e desceram a rua, a medo, com medo que aquele barulho tão diferente, não fosse de algo bom como parecia. Fosse um ruído acidental, sujo, escuro e mal-cheiroso, em tudo igual aquela noite em que se fazia ouvir.


Continuaram a descer a rua cada vez mais devagar, com cada vez mais medo e o coração cada vez mais apertado. "E se não for nada de diferente?" "E se não passar de um engano, um engano nosso?". A esperança era grande mas o medo, esse era maior. Se o barulho não fosse diferente quereria dizer que todas as noites continuariam assim? Que a felicidade os tinha abandonado de vez? Que a esperança podia e iria morrer?


Aquele som era como um abraço quente e carinhoso, como a brisa que sopra no Verão e alívia o ar quente, espesso e difícil de respirar. Todo aquele ruído que, mais que barulho, parecia música vinda de mil carrilhões, mil pássaros e mil coros de crianças a cantar, parecia vindo do futuro. De um futuro novo e diferente de tudo aquilo que conheciam, cheio de esperança e de luz, um futuro que parecia dizer que vale a pena esperar e lutar por ele!


Mas mesmo assim eles tinham medo. Ninguém sabia de onde vinha aquele som mágico e encantador, que, apesar do medo, os deixava em transe.


No fundo da rua, descobriram tudo e, de súbito, todos aqueles corações encheram-se de coragem e viram que tudo valia a pena.


Depois daquela caminhada, que apesar de curta lhe pareceu eterna, descobriram a fonte daquele ruído.


Aquele barulho, que em tudo era diferente daquela noite, era o som do mundo a sorrir.


É tudo isto que vejo quando olho para ti.

23 abril, 2010

Escondido no ovo...

No princípio eram três, mas dois deles chocaram mais cedo e ao mesmo tempo!!!


O outro, bem, o outro ficou por lá, à espera, à espreita da altura certa para saltar de lá de dentro.


Os dois primeiros, o Nuno e a Matilde, bem o chamavam. Encostavam-se aquela barriga de onde tinham saído e diziam "Anda, anda lá brincar connosco! Nós sabemos que estás aí! Anda, anda....".


Mas ele não ia.Sentia-se bem ali, estava seguro, quente, tinha medo do que havia lá fora, tanto barulho, tanta luz, tanta gente... Agora estava sozinho, tinha todo o espaço para si e podia brincar à vontade lá dentro!


De lá de fora ouvia "Então, não vens?" . Aquelas vozes junto à barriga chamavam-no, tentavam-no.. Tantos risos, aqueles barulhos próprios de quem não brinca sozinho....


Decidiu, por fim, chocar, sair para ir brincar com os irmãos. E quando saiu cá para fora pensou, "Nunca mais volto lá para dentro..."


E enquanto este pensamento lhe invadia o coração e a cabeça com tristeza, ouviu aquelas duas vozes, aqueles companheiros de brincadeira de quem tinha tantas saudades a perguntar "Oh Luís, então?!!! Por que é que demoraste tanto tempo? Estavas aonde???", "Dentro do ovo", respondeu ele.

23 dezembro, 2009

Os irmãos Grimm e outros que tais devem andar às voltas no túmulo....

Ora então porquê, perguntam voçês... Ora bem, têem pegado, ultimamente em livros infantis????
Não, então peguem e percebam!!!

Ando chocada com isto, é tudo pelas criancinha (nada contra, muito pelo contrário, tudo a favor) mas desde quando é que aquelas histórias cheias de morais por baixo traumatizam as crianças???

Acham mesmo que um cachopo ou cachopa vai dar uma de Hannibal, The Cannibal só porque o Lobo Mau comeu a Avozinha e o Capuchinho,ou porque a bruxa anda a engordar o Hansel??? Que alguma criança se vai tornar numa viciada por causa da Lagarta da Alice no país das Maravilhas?

Eu li umas cinquenta mil vezes essas histórias e mais umas quantas e não fiquei com traumas psicológicos e, muito menos, a minha personalidade foi moldada com base nessas histórias, senão estava bem tramada, ainda acreditava em príncipes encantados, dava uma de donzela em perigo e ficava eternamente à espera de uma cavaleiro montado num cavalo branco que me viesse salvar!!! Tava bem tramada, nunca tinha saído de casa, não sabia cozinhar e era uma dondoca como tantas outras que andam por aí.

O que me parece é que voltamos ao tempo da censura, as desta vez está disfarçada pelo politicamente correcto (se é que isto existe, por que desde que vi uma deputada a chamar palhaço a outro deputado....) e, mais uma vez, pelo bem das crianças.

O que eu sugiro a todos os editores é que não mexam nas histórias, elas foram escritas daquela forma por alguma razão, os senhores que as escreveram já morreram e estar a mexer na obra dos outros não me parece nada bem. Deixem o Lobo Mau comer aquilo que ele quiser, deixem o Hansel comer doces e mostrar aos putos que tanto doce faz mal, não traz bruxas atrás mas traz diabetes e obesidade mórbida, deixem a Lagarta fumar do cachimbo e a Alice comer os cogumelos que lhe apetecer.

Façam isso, que não doi nada 

22 outubro, 2009

Salvem as Banheiras!!!!

De volta, depois de um interregno que nada teve a ver com falta de inspiração ou bloqueio de escritor, mais com falta de computador, acesso à internet e muito pouco tempo livre. Mas agora já que a falta de computador e acesso à internet já estão resolvidos (nos minutos livre no trabalho), voltar ao activo é sempre bom.

Salvem as banheiras, digo eu!!! Não, não é gralha, não não são baleias, são banheiras mesmo. "Oh estúpida, as banheiras não são animais!", pois não, mas estão em extinção!!

Eu sou "verde". Faço reciclagem,tenho uma garrafa de litro e meio dentro do autoclismo para não usar tanta água, fecho a torneira enquanto lavo os dentes, lavo as mãos, acho mal o abate contínuo da selva amazónica que só prejudica o globo, sou a favor das acções da Greenpeace, defendo o salvamento do boto do amazonas, acredito que ainda existam golfinhos no Yang Tsé, salvem os tubarões, as baleias, os gorilas e os elefantes, os linces da Malcata, a águia real e os peixinhos dourados. Mas as banheiras também estão em extinção!!!

A minha luta não são os banhos de imerssão que adoro, mas que me pesam na consciência, mas o facto de nem sequer ter essa possibilidade chateia-me!!! Defendo com unhas e dentes o fim dos polibans ou polivans ou como lhes quiserem chamar. Sacrifico o espaço de uma casa-de-banho a ter uma banheira por que dá jeito em todos os sentidos. Vejamos, uma banheira serve para, além dauqeles banhos de imerssão maravilhosos, cheios de espuma, acompanhados com um livro e uma mini fresquinha, lavar os tapetes, para dar banho aos putos (as banheiras dos "piquenos" dão para prender nas bordas da banheira), o duche, ao contrário do que muita gente pensa, também se pode tomar na banheira, se houver muita gente para dormir lá em casa e tivermos falta de espaço a banheira também é uma opção e cinquenta mil razões mais existem para que se prefira uma banheira ao poliban/van, que certamente se lembrarão e que mais de metade não convém dizer em público...

Por isso, lanço daqui o repto a todos os senhorios de Portugal e todo o mundo, façam os vossos inquilinos felizes e dêem-lhes uma banheira, e a todos os inquilinos digam não a todas as casas sem banheira!

Povos do mundo, uni-vos e dizei a uma só voz: SALVEM AS BANHEIRAS!!!!!


próxima jornada de luta será dedicada às varandas